sexta-feira, 17 de julho de 2015

Por que a ida da sonda a Plutão deixou cientistas de queixo caído

 

 

Quem pensava que a missão da New Horizons seria tediosa (e muitos pensavam assim) se enganou.

Imagem mostra superfície de Plutão feita pela New Horizons (Foto: Nasa TV/Divulgação)

Imagem mostra superfície de Plutão feita pela New Horizons (Foto: Nasa TV/Divulgação)

"Eu pensava que esta missão poderia terminar como uma das mais chatas do mundo, e que Plutão acabaria sendo como nossa Lua ou Mercúrio, um planeta cheio de crateras em que nada acontece", afirmou à BBC Nigel Henbest, astrônomo britânico da Universidade de Leicester e conhecido divulgador científico.

"Ficamos todos de queixo caído com o que vimos, toda a atividade nesses mundos (Plutão e suas luas), mas ainda não temos ideia do que está realmente ocorrendo ali."

A região em forma de coração é chamada de Região de Tombaugh, em homenagem ao descobridor do planeta anão

Henbest fala com paixão sobre a paisagem de montanhas geladas, sem crateras e com evidências de processos geológicos encontrada no planeta anão nos confins do Sistema Solar.

Sua surpresa é compartilhada pelo restante da comunidade científica que, graças à sonda New Horizons da Nasa (agência espacial americana) que sobrevoou Plutão em 14 de julho, pode, pela primeira vez, conferir imagens em alta resolução do planeta.

A geografia dinâmica e variada revelada pelas imagens muda a perspectiva que tínhamos sobre esse corpo celeste desde seu descobrimento, há 85 anos.

E essas informações também podem trazer respostas sobre como se formam os planetas e, inclusive, sobre as origens de alguns elementos fundamentais da vida.

Altas como os Alpes
Um dos traços que mais surpreendeu os pesquisadores é a topografia acidentada de Plutão.

Imagem feita pela New Horizons mostra Caronte, uma das luas de Plutão (Foto: Nasa TV/Divulgação)

Imagem feita pela New Horizons mostra Caronte, uma das luas de Plutão (Foto: Nasa TV/Divulgação)

As imagens mostram montanhas nos extremos da região que tem forma de coração – batizada informalmente como Região de Tombaugh, em homenagem ao descobridor de Plutão, Clyde Tombaugh – com cerca de 3.300 metros, altitude superior à dos Alpes na Europa ou à das Montanhas Rochosas no oeste dos Estados Unidos.

"E pode ser que existam montanhas mais altas em outra parte", explica John Spencer, um dos pesquisadores da missão.

Segundo Spencer, a capa relativamente fina de metano, monóxido de carbono e nitrogênio congelado que cobre a superfície do planeta anão é forte o suficiente para formar montanhas.

Por isso os cientistas acreditam que elas se formaram com a água congelada do subsolo, já que o gelo se comporta como rocha sob as temperaturas gélidas de Plutão.

Curiosamente, as observações feitas do planeta desde a Terra não haviam detectado sinais de água gelada.

Essa teoria poderá ser corroborada pelas medições feitas por sete equipamentos a bordo da New Horizons, cujos resultados irão chegar ao centro de controle de Maryland (EUA) nos próximos 16 meses. "Podemos estar certos de que existe água em abundância", avalia de antemão Alan Stern, chefe da missão.

Ausência de crateras
Nada de crateras. Essa foi a segunda grande surpresa que a missão trouxe aos cientistas. A sonda New Horizons demorou 9 anos e meio para chegar a Plutão, passando por todo o Sistema Solar

As crateras permitem aos astrônomos determinar a idade de uma superfície: se é muito antiga terá marcas deixadas por impactos de colisões e se for mais nova será mais lisa, já que a formação recente apaga as impressões anteriores.

As novas imagens, apontou Stern, mostram um terreno que parece ter passado por processos vulcânicos ocorridos nos últimos 100 milhões de anos.

Isso implicaria numa idade extremamente jovem para a superfície, se considerarmos que o Sistema Solar tem 4,5 bilhões de anos.

Tal atividade geológica demanda alguma fonte de calor. Isso foi visto antes apenas em luas congeladas, onde tais processos se explicam pelas "marés de calor" causadas por interações gravitacionais com o planeta mais próximo.

"Marés de calor não são imprescindíveis para gerar calor geológico em corpos congelados. Essa foi uma descoberta importante que fizemos nesta semana", afirmou Spencer.

Mais gelo e menos rocha
Plutão se localiza no Cinturão de Kuiper, uma zona periférica do Sistema Solar onde o Sol deixa de influenciar os corpos celestes que o rodeiam. O tamanho de Plutão também não era o que se pensava: demonstrou ter alguns quilômetros a mais de diâmetro, agora definido em 2.370 km, o que equivale a aproximadamente dois terços do tamanho de nossa Lua.

Isso quer dizer que Plutão tem mais gelo e menos rochas abaixo de sua superfície do que se pensava.

A falta de precisão na medição de Plutão desde a Terra ocorre porque, em primeiro lugar, o corpo celeste está muito longe daqui (4,8 bilhões de km). E também porque sua atmosfera cria reflexos capazes de confundir o telescópio terrestre mais avançado.

E existe neve no planeta gelado? Os sensores da New Horizons detectaram que a fina atmosfera de nitrogênio se estende até o espaço, e pesquisadores acreditam que ela possa gerar flocos que atinjam a superfície antes de evaporar na atmosfera.

Caronte
As surpresas não acabam em Plutão. Caronte, sua maior lua, também deixou cientistas perplexos. As imagens mostram penhascos tão profundos como o do Grand Canyon, no oeste dos Estados Unidos.

"Pensava que Caronte poderia ter um terreno antigo coberto de crateras… mas ficamos boquiabertos quando vimos a nova imagem", explicou Cathy Olkin, cientista da missão, citando uma cadeia de desfiladeiros de 800 km.

Até agora os pesquisadores contam apenas com uma parte ínfima dos dados que a sonda já recolheu.

Certamente, ao longo desses 16 meses em que toda a informação será enviada, continuaremos a ser presenteados com surpresas e imagens maravilhosas.

Fonte :http://g1.globo.com

 

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