segunda-feira, 1 de junho de 2015

Como os Psicodélicos Salvaram Minha Vida

 

 

Agradecemos ao Vitor Reinaque Mutinari por ter contribuído ao blog com a tradução do artigo.

Eu te convido para dar um passo atrás e limpar sua mente de décadas de falsa propaganda. Os governos do mundo todo mentiram para nós sobre os benefícios da maconha medicinal. O público também foi desinformado sobre psicodélicos.

Essas substâncias não viciantes – MDMA, Ayahuasca, Ibogaína, Cogumelos com Psilocibina, Peyote e muitos mais – são comprovadamente rápidas e eficientes ao ajudar pessoas a se curarem de traumas, TEPT (Transtorno de Estresse Pós Traumático), ansiedade, vício e depressão.

 

Minha experiência com sintomas de Ansiedade e TEPT

Eu fui atraída para o jornalismo desde jovem pelo desejo de fornecer uma voz ao ‘pequeno cara’. Por quase uma década trabalhando como correspondente investigativa da CNN e jornalista independente, eu me tornei uma porta voz dos oprimidos, vitimados e marginalizados. Meu caminho de jornalismo submersivo trouxe-me mais próxima de minhas fontes, vivendo a história para ter uma real compreensão do que estava acontecendo.

Falando em uma conferência de imprensa no Líbano sobre abusos dos direitos humanos que presenciei enquanto repórter no Barein.

Falando em uma conferência de imprensa no Líbano sobre abusos dos direitos humanos que presenciei enquanto repórter no Barein.

Após muitos anos de reportagem, eu percebi uma infeliz consequência do meu estilo – havia-me imergido muito profundamente nos traumas e sofrimento das pessoas que entrevistei. Comecei a ter problemas para dormir quando suas faces apareceram nos meus sonhos mais sombrios. Passei muito tempo absorvida em um mundo de desespero e minha incapacidade de defesa permitiu que o trauma dos outros se estabelecesse dentro de minha mente e ser. Combinando isso com as diversas experiências violentas enquanto trabalhando no campo e eu estava no meu pior. Uma vida de reportagens no limite levou-me à beira da minha própria sanidade.

Porque eu não consegui encontrar uma maneira de processar minha angustia, ela cresceu como um monstro, manifestando-se em um estado constante de ansiedade, perda de memória de curto prazo, sonolência e hiperexcitação. As palpitações me fizeram sentir como se estivesse batendo na porta da morte.

Porque escolhi Medicinas Psicodélicas

Enquanto na CNN, eu investigava questões ambientais e de direitos humanos.

Enquanto na CNN, eu investigava questões ambientais e de direitos humanos.

Remédios prescritos e antidepressivos servem um propósito, mas eu sabia que eles não estavam no meu caminho de cura após minhas investigações terem exposto seus efeitos colaterais sinistros, incluindo crianças nascendo dependentes das medicações após suas mães não conseguirem largar seus vícios. Mascarar os sintomas de uma condição psicológica mais profunda com uma pílula parecia como colocar um Band-Aid num ferimento à bala.

Eu fiquei ciente dos poderes curativos em potencial dos psicodélicos como uma convidada do podcast Joe Rogan Experience em Outubro de 2012. Joe me contou que cogumelos psicodélicos transformaram sua vida e tinham potencial para mudar o curso da humanidade para melhor. Minha reação inicial foi achar divertido e ficar um pouco incrédula, mas a semente havia sido plantada.

Psicodélicos eram uma escolha estranha para alguém como eu. Eu cresci no Centro-Oeste e fui alimentada por 30 anos de propaganda explicando o quão horrível essas substâncias eram para minha saúde. Você pode imaginar meu queixo caído de surpresa quando, após o podcast do Rogan, encontrei artigos sobre os maravilhosos efeitos dessas substâncias que se comportavam mais como medicinas do que drogas. Artigos como este aqui, este, este, este, e este. E estudos como este, este, este, este, este… e este… todos exemplos angustiantes de come fomos enganados pelas autoridades que classificaram os psicodélicos como narcóticos schedule 1 (classificação oficial norte-americana), ‘sem valores medicinais’ apesar de dezenas de estudos científicos provando o contrário.

 

Viajando Pelo Mundo

Tendo apenas experimentado uma única vez um estranho baseado de maconha na faculdade, em Março de 2013 eu me encontrava embarcando em um avião para Iquitos, Peru para experimentar um dos mais poderosos psicodélicos da terra. Deixei meu carro no aeroporto, apressadamente arrumei meus pertences em uma mochila e me dirigi para a floresta Amazônica colocando minha fé cega em uma substância que a uma semana atrás eu mal conseguia pronunciar: ayahuasca.

A bebida ayahuasca é preparada pela combinação de folhas de chacrona, que contém o poderoso psicodélico DMT), com a vinha ayahuasca.

A bebida ayahuasca é preparada pela combinação de folhas de chacrona, que contém o poderoso psicodélico DMT), com a vinha ayahuasca.

Ayahuasca é um chá medicinal que contém o composto psicodélico dimetiltriptamina, ou DMT. A bebida está se espalhando pelo mundo após inúmeras anedotas terem mostrado que a bebida tem o poder de curar ansiedade, TEPT, depressão, dores inexplicáveis, e inúmeras aflições físicas e mentais. Estudos sobre bebedores de longo prazo de ayahuasca mostraram que eles são menos suscetíveis a vícios e possuem níveis elevados de serotonina, neurotransmissor responsável pela felicidade.

Se eu tinha alguma ressalva, dúvida, ou descrença, elas foram rapidamente expelidas logo após minha primeira experiência com ayahuasca. O chá de gosto horrível vibrou através de minhas veias e dentro do meu cérebro enquanto a medicina escaneava meu corpo. Meu campo de visão foi engolfado com uma profusão de cores e padrões geométricos. Quase instantaneamente, eu tive uma visão de um muro de tijolos. A palavra ‘ansiedade’ estava pintada em spray em grandes letras no muro. “Você deve curar sua ansiedade, ” a medicina sussurrou. Eu entrei num estado de sonho onde memórias traumáticas foram finalmente desalojadas do meu subconsciente.

Era como se eu estivesse assistindo um filme da minha vida inteira, não como meu ‘eu emocional’, mas como uma observadora objetiva. Esse vívido filme introspectivo foi exibido em minha mente enquanto eu revivia minhas cenas mais dolorosas – o divórcio dos meus pais quando eu tinha apenas 4 anos de idade, relacionamentos passados, ser baleada por policiais enquanto fotografava um protesto em Anaheim e sendo esmagada em baixo de uma multidão enquanto fotografava um protesto em Chicago. A ayahuasca me permitiu reprocessar esses eventos, separando o medo e emoção das memórias. A experiência foi equivalente a dez anos de terapia em uma sessão de ayahuasca de oito horas.

Nós esperamos nervosamente que a cerimônia de ayahuasca começasse. Nós deram dado baldes para os intensos efeitos abortivos da medicina.

Nós esperamos nervosamente que a cerimônia de ayahuasca começasse.

Mas a experiência, e muitas experiências psicodélicas para esse propósito, foi aterrorizante algumas vezes. Ayahuasca não é para todos- você deve estar disposto a revisitar alguns lugares bem escuros e se render para o incontrolável, fluxo feroz da medicina. Ayahuasca também causa vômitos e diarreia violentos, que os xamãs chamam de “melhorar” porque você está purgando o trauma de seu corpo.

Após sete sessões de ayahuasca nas selvas do Peru, o nevoeiro que encobriu minha mente sumiu. Eu era capaz de dormir novamente e noticiei melhoras na minha memória e menos ansiedade. Eu ansiava absorver o máximo de conhecimento possível sobre essas medicinas e passei o ano seguinte viajando pelo mundo em busca de mais curadores, professores e experiências pelo jornalismo submersivo.

Eu fui atraída para os cogumelos com psilocibina após ler como eles reduziam a ansiedade em pacientes terminais de câncer. Ayahuasca mostrou me que meu distúrbio principal era ansiedade, e eu sabia que ainda tinha trabalho a fazer para consertar isso. Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e estudos mostraram que eles reduzem ansiedade, depressão, e até levam a neurogênese, ou o crescimento de células cerebrais. Porque governos do mundo todo mantem fungos tão profundos fora do alcance do povo?

A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.

A curandeira abençoou me enquanto eu comia uma folha cheia de cogumelos com psilocibina para a cerimônia de cura.

Depois de Peru, eu visitei curandeiras em Oaxaca, Mexico. Os mazatecos haviam usado cogumelos com psilocibina como sacramento e medicinalmente por centenas de anos. Curandeira Dona Augustine me serviu uma folha repleta de cogumelos durante uma belíssima cerimônia diante de um altar católico. Enquanto ela cantava canções milenares, eu observava o pôr-do-sol sobre a paisagem montanhosa em Oaxaca e um profundo senso de conexão lavou meu inteiro ser. A beleza inata me levou a uma perda das palavras; uma súbita manifestação de emoção me pôs em lagrimas. Eu chorei pela noite e junto com cada lagrima, uma pequena porção do meu trauma escorria pelo meu rosto e dissolvia-se no chão da floresta, me libertando de sua energia tóxica.

Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e um estudo da Universidade do Sul da Florida mostrou que eles podem reparar danos cerebrais causados por trauma.

Cogumelos com psilocibina não são neurotóxicos, são não viciantes, e um estudo da Universidade do Sul da Florida mostrou que eles podem reparar danos cerebrais causados por trauma.

Talvez o mais espantoso, os cogumelos silenciaram a parte autocritica de minha mente por tempo suficiente para eu reprocessar a memória sem medo ou emoção. Os cogumelos possibilitaram-me lembrar de um dos momentos mais aterrorizantes de minha carreira: quando fui detida sob miras de armas no Bahrein enquanto filmava um documentário para CNN. Eu havia perdido qualquer lembrança daquele dia quando homens mascarados apontaram armas em nossas cabeças e forçaram minha equipe e eu ao chão. Durante uma boa meia hora, eu não sabia exatamente se iriamos ou não sobreviver.

Eu passei muitas noites sem dormir procurando desesperadamente por memórias daquele dia, mas elas estavam trancadas em meu subconsciente. Eu sabia que as memórias ainda me assombravam porque a qualquer momento eu iria ver ‘disparadores’ de TEPT, como barulhos altos, helicópteros, soldados, ou armas, e uma onda de ansiedade e pânico iriam inundar meu corpo.

A psilocibina era a chave para destrancar o trauma, possibilitando-me aliviar o aprisionamento momento a momento, fora do meu corpo, como um observador objetivo sem emoção. Eu espiei dentro da van da CNN e vi meu antigo eu sentada no banco traseiro, helicópteros barulhentos sob nossas cabeças. Minha produtora Taryn estava sentada a minha direita tentando freneticamente fechar a porta da van enquanto nos tentávamos escapar. Eu ouvi Taryn gritar “armas!” quando homens mascarados pularam dos veículos de segurança que cercavam a van. Eu observei enquanto eu rastejava desesperadamente até uma mochila no chão, pegando meu cartão de identificação da CNN e pulando fora da van. Vi-me deitada no chão em posição de criança, poeira cobrindo meu corpo e face. Observei-me enquanto lancei minha mão com o emblema da CNN no ar acima da minha cabeça gritando “CNN, CNN, não atirem!!”

Eu vi a dor em minha face quando as forças de segurança jogaram o ativista de direitos humanos e amigo querido Nabeel Rajab contra o carro de segurança e começaram a perturba-lo. Eu vi o terror em minha face enquanto olhei para minha camisa, braços no ar, rezando para que as fitas de vídeo escondidas em meu corpo não caíssem no chão.

Durante a cerimônia a psilocibina libera memórias traumáticas armazenadas no fundo do meu subconsciente para que eu possa processa-las e curar. A experiência é intensamente introspectiva.

Durante a cerimônia a psilocibina libera memórias traumáticas armazenadas no fundo do meu subconsciente para que eu possa processa-las e curar. A experiência é intensamente introspectiva.

Enquanto revivia cada momento de aprisionamento, reprocessei cada memória movendo-as da pasta “medo” para seu novo permanente lar na pasta “seguro” no disco rígido de meu cérebro.

Cinco cerimônias com cogumelos com psilocibina curaram minha ansiedade e os sintomas de TEPT. As borboletas que tinha um lar permanente em meu estomago voaram para longe.

Psicodélicos não são a solução completa. Para mim, eles foram uma chave que abriu a porta para a cura. Ainda tenho que trabalhar para manter a cura com o uso de tanques de flutuação, meditação, e yoga. Para os psicodélicos serem efetivos, é essencial que eles sejam tomados com o estado mental adequado em um ambiente descontraído propicio para a cura, e que todas as possíveis interações medicamentosas tenham sido cuidadosamente pesquisadas. Pode ser fatal se Ayahuasca for misturada com antidepressivos prescritos.

Fui abençoada com uma natureza curiosa e uma teimosia de sempre questionar autoridade. Se tivesse optado por um roteiro de um médico e me resignado na esperança que as coisas simplesmente melhorassem, eu nunca teria descoberto todo o alcance da minha mente e coração. Tivesse eu bebido o Kool-Aid e acreditado que todas as ‘drogas’ fossem ruins e sem valor medicinal, talvez estivesse no meio de uma batalha com TEPT.

A Criação do Reset.me

Este mesmo mundo que exalta a guerra, a violência, o mercantilismo, a destruição ambiental e o sofrimento proibiu algumas das chaves mais profundas para a paz interior. A Guerra às Drogas não é baseada na ciência. Se fosse, duas das drogas mais mortais da Terra – álcoole tabaco – seriam ilegais. Aqueles que sofrem com trauma se tornaram vitimas dessa guerra falida e perderam um dos modos mais eficientes de cura.

A humanidade enlouqueceu como resultado.

Lyon e um cientista abrem o estômago de peixe para procurar lixo plástico durante filmagens de um documentário sobre a poluição oceânica excessiva de plástico.

Lyon e um cientista abrem o estômago de peixe para procurar lixo plástico durante filmagens de um documentário sobre a poluição oceânica excessiva de plástico.

Passei dez anos testemunhando a insanidade coletiva como jornalista da linha de frente – guerras, derramamento de sangue, destruição ambiental, escravidão sexual, mentiras, vicio, ódio, medo.

Mas eu entendi tudo errado jornalisticamente. Eu estava focando nos sintomas de uma sociedade doente, ao invés de estar atacando a raiz da causa: trauma não processado.
Nós todos temos trauma. Trauma se aloja em criminosos violentos, a esposa que traí, políticos corruptos, aqueles que sofrem de transtornos mentais, vícios, dentro deles muito medo de assumir riscos e atingir seu pleno potencial.

Se não for adequadamente processado e purgado, trauma é cimentado no disco rígido da mente, crescendo em uma parasita obscuro que eleva sua cabeça feia por toda a vida de uma pessoa. Os ferimentos nos mantem trancados em uma grade de medo, preso atrás de uma personalidade não verdadeira para a alma, trabalhando em um emprego mundano ao invés de seguir uma paixão, repetindo o ciclo de abuso, destruindo o ambiente, ferindo uns aos outros. O sofrimento mais comum e severo é infligido na infância sequestrando o lugar do motorista para a fase adulta, conduzindo o indivíduo em uma estrada privada de felicidade. Renomado especialista em vícios Gabor Mate diz, “O maior causador de vícios severos é sempre o trauma infantil”.

Nós vivemos em um mundo cheio de feridas e quando deixadas sem tratamento, elas são passadas sem cerimônia de uma geração para outra, assim o ciclo traumático continua com toda sua brutalidade destrutiva.

Mas há esperança. Nós podemos transformar o curso da humanidade ao purgar coletivamente nossa mágoa/pesar e curando a nível individual, com ajuda das medicinas psicodélicas. Uma vez curados em nível individual, nós veremos uma dramática transformação positiva na sociedade como um todo.

Eu fundei o website reset.me para produzir e agregar jornalismo sobre consciência, medicinas naturais, e terapias. O explorador psicodélico Terrence McKenna comparou tomar psicodélicos com apertar o ‘botão reiniciar’ no seu disco rígido interno, limpando todo lixo, e recomeçando. Eu criei o reset.me para ajudar conectar aqueles que precisam apertar o ‘botão reiniciar’ na vida com o jornalismo cobrindo as ferramentas que nos permitem curar.

É uma crise de direitos humanos os psicodélicos não estarem acessíveis para a população em geral. É insano que governos do mundo todo tenham proibido as próprias medicinas que pode emancipar nossas almas do sofrimento.

É tempo de parar essa loucura.

 

http://mundocogumelo.com

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