terça-feira, 28 de outubro de 2014

Reaprender a viajar depois dos 80

 

Desde pequeno sempre quis conhecer o mundo. Ainda que na minha infância eu não soubesse ao certo aonde gostaria de ir, eu conseguia sentir que teria grandes experiências.

Na faculdade, em 1947, fizemos um projeto de ir para a Argentina de carro. Compramos, eu e uns amigos, um Fiat 1929! Mas o carro não passou do Largo de Indianópolis. Voltamos para casa e tomamos um avião Mosquito, um daqueles antigos bombardeiros ingleses usados na Segunda Grande Guerra e que haviam sido adaptados pelos argentinos para transportar passageiros. Era baratíssima a passagem...ninguém queria viajar naquilo, claro! Mas fomos...

A vida financeira melhorou depois de me casar com a Flora e ter meus primeiros filhos. Era tempo de curtir férias em família. Gostávamos de arriscar, alugando casas bem simples, “no meio do nada”: praias desertas, sem luz, sem água e cheias de mosquitos, como reclamava minha filha mais velha. Pegava uma Kombi e carregava a família inteira, incluindo sogros, cunhados e sobrinhos. Eram férias deliciosas. Malucas, mas deliciosas.

Um dia resolvi comprar um sítio. As férias agora tinham endereço. Foi uma época de viagens de casal, Flora e eu. Fomos para Buenos Aires, na Argentina e Santiago, no Chile. Conheci a América do Sul praticamente inteira, o lado mais romântico, com certeza.

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Viajar é sempre uma aventura, não importa a idade Viajar é sempre uma aventura, não importa a idade

Quando tive meus primeiros netos, minha vida estava numa boa. Não era mais um jovenzinho, mas ainda gostava de boas aventuras. Fui muito para o Pantanal com meus filhos e meu neto mais velho e foram as mais incríveis pescarias e caçadas! As mulheres, na época, não encaravam esse tipo de aventura, tudo era muito improvisado!

Já estava prestes a me aposentar quando decidir viajar mais longe e ficar fora por mais tempo. Sempre gostei de desfrutar ao máximo do lugar onde estou. Não consigo entender como alguém pode achar que consegue conhecer Paris em apenas quatro dias! Passava no mínimo duas semanas em cada cidade e conheci de fato, o mundo inteiro. Américas, Europa e África. Se considerarmos Rússia oriental, inclusive Ásia. Hoje, quando me perguntam qual o país mais interessante, não sei responder. Não existe um único lugar incrível, todos os lugares são incríveis, cada um a seu modo!

Não parei de viajar, nem mesmo com meus 80 e poucos anos. Hoje tenho 88. Foram viagens mais curtas, para lugares mais próximos, como Argentina e Uruguai. Claro que as condições físicas mudaram. E o olhar muda. A velhice subverte o tempo da viagem, o que passava rapidinho agora demora mais, você saboreia com lentidão as experiências. Examina cada uma à luz do conhecimento e da sensibilidade que acumulou...mas continua sendo uma experiência deliciosa.

Aprendi a curtir momentos diferentes, como observar as pessoas numa praça, uma boa conversa com um taxista e o desfrutar de uma saborosa comida típica. Se me pedissem um conselho em relação à viagem, eu diria: troque dez países em vinte dias por um país em dez.

A Europa é um bom destino, fácil transporte, cidades planas – não temos mais os joelhos dos trinta e poucos anos – e uma boa infraestrutura. Não há necessidade de se afobar: acorde no seu horário normal, passeie, conheça o que quiser conhecer. Se não quiser visitar algum ponto turístico, não vá, pronto! A gente conhece de fato um lugar pelas pessoas, pela comida e pela arquitetura.

Não existe idade certa para viajar. Existe um modo e uma experiência distinta, nem mais, nem menos interessante.

Luiz Gerevini é advogado e empresário aposentado. Patriarca de uma família de 5 filhos, 11 netos e 6 bisnetos (por enquanto), com 89 anos, ele atualmente dedica sua vida aos seus maiores prazeres: viagens, leitura e um bom vinho. Sua mais recente aventura está sendo se arriscar no universo da escrita para web.

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